CHAMADA PARA PUBLICAÇÃO DE ARTIGOS. Dossiê: "REVOLTAS E REVOLUÇÕES NO SÉCULO XX"

2017-06-21

Em sua obra “O Fim do Homem Soviético”, Svetlana Aleksiévitch retrata a completa perda de referências provocada pelo perecimento da civilização soviética. Diz a autora que “Nascidos na União Soviética e nascidos depois da União Soviética são seres de planetas diferentes.”. E que no decurso desse desmoronamento, ocorrido na década de 1990, “As mentes deram uma guinada de 180 graus... Alguns não agüentaram e enlouqueceram, os hospitais psiquiátricos ficaram abarrotados.”.

A compreensão da formação desses “planetas diferentes” nos leva a lançar o olhar sobre um outro ponto: o começo desse processo. 2017 marca os 100 anos da Revolução Russa. Nesse ensejo, a Revista Temporalidades divulga a chamada para o dossiê “Revoltas e Revoluções no Século XX”, referente à sua 24ª edição (vol. 9, n. 2, maio/ago 2017), a ser publicada em setembro do presente ano.

Números redondos implicam não apenas efemérides e comemorações, mas estimulam reflexões críticas diversas sobre os acontecimentos históricos, seus sujeitos e desdobramentos. Revoltas e revoluções evidenciam a efervescência política do século XX, marcado por diversas experiências históricas que já foram objetos de análise para muitos estudiosos, mas que ainda se constituem como um campo em aberto para novos debates ou novos olhares sobre debates antigos.

O século que o historiador Eric Hobsbawm chamou de “breve” em “Era dos Extremos”, presenciou mais (e maiores) revoluções do que qualquer outro da história escrita. O ato fundamental desses processos, a Revolução de Outubro de 1917, produziu, segundo ele, “(...) de longe o mais formidável movimento revolucionário organizado da história moderna. Sua expansão global não tem paralelo desde as conquistas do islã em seu primeiro século. Apenas trinta ou quarenta anos após a chegada de Lenin à Estação Finlândia em Petrogrado, um terço da humanidade se achava vivendo sob regimes diretamente derivados dos ‘Dez dias que abalaram o mundo’ (...).”.

A Revolução Russa, aquela que talvez prometesse concretizar o que a Revolução Francesa não foi capaz, evidenciava que, segundo as palavras de Hobsbawm, “A humanidade estava à espera de uma alternativa”. E a passagem dessa espera à ação para buscar alternativas se deu de diversas maneiras e intensidades em inúmeras partes do globo ao longo do século. Da Revolta Espartaquista à Revolução de Veludo, passando pela Revolução Chinesa, pelo maio de 1968 e pela Revolução dos Cravos, os impulsos pela libertação do homem contras as opressões, em suas mais diversas concepções, levaram a diversas expressões e obrigaram as sociedades a pensar novas organizações políticas e sociais. Como exemplo fundamental, a Revolução Cubana serviu de inspiração e paradigma para muitos grupos políticos e projetos revolucionários na América Latina. São eventos, processos e projetos com implicações políticas, sociais, econômicas e culturais que colocavam em cena ao menos a possibilidade de transformações radicais acerca do estar no mundo e em sociedade.

Discutir esses temas em suas amplas dimensões representa desafio instigante e necessário em um ano no qual muitos olhares estão voltados para os debates sobre o centenário dos acontecimentos que modificaram profundamente a sociedade russa, mas que igualmente foram difusores de tensões sociais e políticas que marcaram o século passado.

Buscando reunir trabalhos que possam discutir as revoltas e revoluções do século XX, sejam como acontecimento histórico, debate historiográfico ou projeto político, a Revista Temporalidades convida autores e autoras para contribuírem com o seu dossiê de número 24, de modo a trazer novas discussões para o debate acadêmico. Os diversos impactos dos ideais revolucionários podem abarcar ainda discussões acerca de imaginários revolucionários e anti-revolucionários, revoluções sociais e culturais, além de diálogos com linguagens artísticas, considerando, segundo Perry Anderson, que as artes modernas tiveram como uma de suas coordenadas a proximidade imaginativa da revolução. Entendemos, assim, que essa é uma ideia chave para a compreensão do século XX, capaz de esboçar talvez, utilizando a expressão de Hannah Arendt, alguns “pathos da novidade”.

Vale lembrar que, além de artigos destinados ao Dossiê – que deverão ser enviados até o dia 15/08/2017 – a Temporalidades aceita artigos livres, resenhas e transcrições documentais comentadas em fluxo contínuo.